Coleção Aterrário
Uma coleção em barro e argila, em cerâmica. Crua e simples, uma homenagem aos meus avôs Zé e Tião. Peças torneadas manualmente, uma a uma, com formas e disposições que incorporam minha ancestralidade, sugerindo movimentos de garimpeiros e roceiros com suas bateias, picaretas, foices e machados; e se conectam com as formas da natureza através da aplicação do número de ouro, da proporção áurea e da sequência de Fibonacci. Conceitos que carregam o metal precioso no nome e são encontrados na natureza, inclusive na organização das moléculas de DNA.
As peças, cilíndricas, de linhas neutras e sem rebuscamento, tem seus diâmetros baseados na proporção áurea (do número Phi: 1,618); alturas baseadas na sequência de Fibonacci (múltiplos de 1,1,2,3,5,8,13,21…); e são arranjadas em conjuntos nos quais cada peça é de uma cor diferente: argila branca, argila tabaco ou terracota.
As peças são esmaltadas internamente, transbordando em fina faixa na borda exterior. O esmalte transparente preserva a cor natural da argila, enquanto permite seu uso utilitário; além de gerar contraste estético entre o interior brilhante, liso e impermeável, e o exterior fosco, rústico e poroso.
Por fim, vale dizer que a coleção “Aterrário" surge de uma reflexão sobre o passado e demonstra que olhar criticamente para trás, sem perder a generosidade e a aceitação, nos faz entender quem somos, de onde viemos e - principalmente - nos baliza para onde vamos.
Aterrário / A terra rio
I
A terra que me conecta
com técnicas ancestrais
é canto, não da garganta,
qual prece dos animais
é canto onde me deito
e recolho meus restos,
com portas e peito abertos,
para eras imemoriais
E
é
aqui
que garimpo,
onde não dá ouro
tampouco diamante dá,
a terra rio, que em mim, jorram tantas riquezas
II
A terra que me conecta
com épocas imortais
é rego sem o seu leito
que nem veste de rituais
é templo onde se planta
e se regam sementes,
serenas e pacientes,
como nascentes minerais
E
é
aqui
que cultivo,
onde mal há verde
e em vão ver deste sertão, mar
a terra rio que jorra riquezas em mim
A partir de um questionamento da atividade dos meus avôs, desenvolvi um projeto que me fez olhar o passado com generosidade para enxergar, na destruição, a riqueza passada entre gerações.