Castiçal Torre de Marfim

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Resíduos da produção de baquetas de bateria, qual corpos silenciados, transformo em castiçais pelas mãos precisas e cuidadosas de mestre-artesãos mineiros, convidando-nos à reverência e à reflexão. E um poema-canção, em cuja letra falo de nossos momentos particulares de silêncio, sugerindo que podemos transformar estes momentos em refúgio.

Juntos, um quase-luto pelos sons que nunca serão ouvidos, tais quais nossas próprias vozes que muitas vezes não nos permitimos escutar por excesso de distrações e de ruídos externos.

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Utilizei resíduos da produção de baquetas de bateria, acessório reconhecido pela potência do som produzido e cuja principal matéria-prima é o Pau-Marfim (uma feliz coincidência), mas que, por serem resíduos e refugos, nunca fariam som algum.

Sonhei com este resíduo tornando-se torres, e estas torres eram hastes de castiçais, objeto carregado de simbologia, de oração, de meditação, de silêncio. A base e o suporte para a vela do então castiçal, de pedra-sabão, um dos materiais mais utilizados nas igrejas de Minas Gerais, contribuindo, para fortalecer o conceito de sagrado e de reverência em muitas outras camadas.

Os produtos foram executados em Tiradentes-MG, um dos principais centros históricos de arte barroca, pelos mestre-artesãos Rondinelly Santos, entalhador de madeira, e Expedito Jonas de Jesus, escultor de pedra sabão.

Neste trabalho, exploro a audição pela sua antítese, o silêncio.

Primeiro veio o som. No início do ano compus uma música intitulada “Torre de Marfim", com o Beto Mejía, parceiro desde nossa época com a banda Móveis Coloniais de Acaju. Na canção, falamos de momentos individuais de silêncio, de se escutar.

Depois o convite para participar da exposição Feel Brasil, que acontecerá em Milão durante o Salão do Móvel da cidade italiana, capital mundial do design, apresentando uma peça de design tendo como referência a audição. Contribuiu muito para esta escolha o fato de eu ser também músico, além de artista e designer, minha intimidade com o som. Ou seja, o resultado seria um objeto para a música.

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Torre de Marfim

(Eduardo Borém e Beto Mejía)

Explorar confins
Mergulhar dentro de si
Prestar atenção
À própria imensidão

Alto mar
Já não dá pé
Fé pra remar
Pra longe da maré

Alto lá
Só ar sem chão
Posso voar
Se escuto a solidão (aqui)

Ir bem longe pra se ouvir
Ou quase se afogar
Peito aberto pra encontrar
Um mundo pra fugir

Explorar confins
Mergulhar dentro de si
Prestar atenção
À própria imensidão

Ivory Tower

(English version by Eduardo Borém)

To explore confines
To dive in from outside
To pay all attention
To your immense extension

Open seas
Can’t feel the ground
Trust the boat to be
Rowing away from tides

Lonesome winds
Sky full of clouds
I can fly if
I listen to my heart (here)

Far from everything you’ll hear
Yourself or you'll drown out
Have the courage to find out
A shelter you can reach

To explore confines
To dive in from outside
To pay all attention
To your immense extension